Carros e Renda em Sao Paulo

Este post analisa a relação entre a posse de automóveis e a renda domiciliar usando dados da Pesquisa Origem e Destino do Metrô de 2017. Um modelo de escolha discreta revela um impacto significativo da renda na decisão de possuir um carro. Idade, educação e filhos também são fatores importantes e que aumentam a probabilidade do domicílio ter um automóvel. O único fator encontrado que reduz a probabilidade do domicílio ter um automóvel é ele ser chefiado por uma mulher.
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Author

Vinicius Oike

Published

January 15, 2024

Carros e Renda

Este post investiga a relação entre a “demanda por automóveis”, entendida simplesmente como a posse (ou não) de um automóvel. Usando dados da Pesquisa Origem e Destino do Metrô de 2017, estima-se um modelo de escolha discreta para investigar o efeito da renda domiciliar sobre a escolha de ter um carro. Encontrou-se um efeito forte e significante da renda sobre a “demanda” por carros. Idade, educação e filhos também são fatores importantes e que aumentam a probabilidade do domicílio ter um automóvel. O único fator encontrado que reduz a probabilidade do domicílio ter um automóvel é ele ser chefiado por uma mulher.

Vale notar que não se pode falar propriamente em “demanda” por automóveis já que temos somente dados de um único momento no tempo. Eventualmente, quando os dados da POD 2022 forem liberados, será possível construir uma curva de demanda por automóveis.

São Paulo: fatos gerais

A Região Metropolitana de São Paulo abriga aproximadamente 20 milhões de pessoas e gera mais de 40 milhões de viagens todos os dias. Segundo Relatório do Metrô as viagens na Região Metropolitana de São Paulo dividem-se da seguinte maneira: um terço das viagens é feita por modos não-motorizados (a pé ou de bicicleta), enquanto dois terços das viagens é feito por modos motorizados. Neste último grupo, 55% das viagens são feitas com modais coletivos (ônibus, metrô, trem) e 45% das viagens são feitas com modais individuais (carro, táxi, moto). Ao todo, as viagens em automóveis particulares (excluindo táxis) representam cerca de 27% de todas as viagens diárias; ou seja, cerca de 1 em cada 4 viagens na RMSP é feita com carro particular.

O diagrama abaixo esquematiza todas as viagens diárias realizadas na RMSP. Vale notar que os dados são de 2017, então muitas das estações das linhas 4-amarela e 5-coral ainda estavam sob construção. Similarmente, as linhas 13-Jade, 15-Prata (monotrilho) ainda não estavam operando. Por simplicidade considerei o universo de todas as viagens: ainda que os deslocamentos casa-trabalho componham a maior parte deste conjunto, inclui-se todo tipo de deslocamento.

Carros por domicílio

Pouco mais da metade dos domicílios na RMSP possui algum automóvel: 53% dos domicílios possui ao menos um carro, enquanto 47% dos domicílios não possui carro particular. Mais especificamente, 43,8% possui somente um carro. Domicílios com 2 automóveis são apenas 8% do total e domicílios com 3 automóveis ou mais são pouco mais de 1% do total.

Na média da RMSP, há 0,635 carros por domicílios. Na capital, o número é similar, 0,6. Olhando para os distritos de São Paulo, vê-se que os menos “carro-dependentes” são distritos centrais como República e Sé. Distritos de baixa renda média como Parelheiros e Cidade Tiradentes também tem uma baixa razão de carros por domicílio.

Os distritos mais carro-dependentes têm rendas elevadas e estão dentro ou próximos do Centro Expandido da cidade. É curioso notar que bairros verticalizados como Moema e Morumbi aparecem junto com o distrito de Alto de Pinheiros que é majoritariamente composto por residências horizontais. Isto sugere que a verticalização não acompanha menor dependência do automóvel particular.

O mapa abaixo mostra a taxa de motorização, a razão de carros por domicílios, nos distritos da RMSP. Vê-se um padrão espacial onde as regiões com maiores taxas de motorização concentram-se no quadrante sudoeste do Centro Expandido da capital. No começo da zona oeste, na região do Tatuapé, também vê-se taxas mais elevadas. Fora da capital, vale notar que a cidade de Santana de Parnaíba tem elevada taxa de motorização, comparável aos distritos mais carro-dependentes de São Paulo.